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Coluna Almanaque: DE VOLTA AO PASSADO

Por Fábio Marques


Foi na tarde de domingo ao escutar a música “Quantas Lágrimas”, que de repente um reprise começou a se desenhar na corrente cerebral de minhas memórias. Entre a lágrima e o sorriso revivi momentos que retratam a época de uma Guajará-Mirim com muito mais resplendor e encanto que não poderia deixar de compartir com os amigos leitores.

Começo lembrando meus tempos de colégio primário. As matérias eram Linguagem, Matemática, Ciências e Estudos Sociais. Ao final de toda semana havia a sabatina na qual a professora passava para os alunos as questões referentes à tabuada ou qualquer outra matéria. Para aqueles que passavam no teste, parabéns. Para aqueles com menos QI, restavam puxões de orelha, reguadas, palmatórias ou o castigo que consistia em o aluno ficar de joelhos de frente para a parede sobre um tapete feito com tampas de garrafas. O pior é que os pais nem chegavam a questionar este método de ensino e haviam aqueles que até davam incentivo. Hoje caberia processo.

Nesta época a cidade tinha dois cinemas e no período das férias por aqui aportava um ou outro circo gigante como o Lambari, o Royale, o Orama e o Norte-Africano que fincavam seus esteios nas cercanias do Clube dos Trabalhadores ou da Escola Capitão Godói. Tínhamos nosso grupo de amigos e éramos aficionados por futebol e fãs da Revista Placar. Com a maior ansiedade fazíamos fila na banca do Paquinha na espera que ele abrisse os malotes para nos vender a revista.

Nesta época o comércio local abastecia toda a região do Beni na Bolívia, todos os seringais e todas as cidades dos rios Mamoré e Guaporé. A atividade industrial tinha na extração da castanha e da borracha um enorme manancial que gerava renda e emprego para muita gente. Em proporções menores nosso comércio também se fazia representar pelo leiteiro que entregava o produto na porta de casa, havia o “bucheiro”, vendedor de miúdos de boi e o vendedor de tortilhas e empanadas que eram vendidas em tabuleiros levados na cabeça e armados na frente do freguês.

Também havia as serrarias, marcenarias, olarias, fábrica de refrigerantes, fábrica de picolés e a “indústria” da higiene pessoal. Neste ramo, as pessoas ricas da cidade depositavam a confiança de entregar suas roupas de seda ou de tergal para as lavadeiras que se ajuntavam nos igarapés dos bairros Triângulo e São José com suas bacias de alumínio, sabão e cassetete e passavam o dia a esfregar e cacetar as roupas, tarefa esta acompanhada de muitos fuxicos e risadas.

Tínhamos nossos problemas. Faltava gás, faltava energia, faltavam produtos essenciais na época do inverno. Isto fora a odisséia que era se deslocar até Porto Velho na velha estrada de piçarra, cujas viagens chegavam a demorar até 20 horas devido aos atoleiros e baldeações. Mas a confiança em dias melhores distorcia esta tortura para transformá-la em aventura.

Embora a título precário, esta é a Guajará-Mirim de minhas lembranças, cidade que aprendi a amar e sempre guardarei em meus “flashbacks”.

*O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Mamoré não tem responsabilidade legal pela “opinião”, que é exclusiva do autor.


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